Em 2017 comemoram-se os 300 anos da fundação da Real Obra, cuja programação incluirá diversos eventos que têm como objetivo celebrar a riquíssima história e o excecional valor cultural do conjunto patrimonial formado pelo Palácio, Convento, Cerca e Tapada de Mafra, sobre o qual decorre o processo de candidatura a Património Mundial da Unesco.
Neste enquadramento presta o Arquivo Municipal de Mafra um simbólico contributo através da disponibilização de dois representativos documentos relativos à Vila e ao Monumento de Mafra, concretamente o cartaz comemorativo do Bicentenário da Basílica de Mafra (1730-1930) e a Planta da parte da Vila de Mafra situada em terreno pertencente à Casa Real (1851).
O cartaz invocativo do Bicentenário da Basílica de Mafra, 1730-1930, em 22 de outubro (dia do aniversário de D. João V), é um exemplo maior do Estilo Nacional, criado pela política do Estado Novo, com tutela do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN, 1926-1933) e liderança de António Ferro. Nele estão fundidos o sentido da síntese – na imagem – e a noção de grafismo – na legibilidade do lettering –, importados da Escola de Bauhaus e trazidos para Portugal pelo artista alemão Fred Kardolfer, o que resulta na simbiose entre as experiências da Arte Moderna e a tradição da cultura popular portuguesa. A veiculação desta linguagem visual folclórica-modernista perpassa, nesta época, todos os domínios da arte, cultura e sociedade, estando servida por um conjunto de artistas nacionais, entre os quais o autor do cartaz, A. Torgal. O tema do turismo é um dos meios privilegiados da propaganda política do Estado Novo, tendo em vista a consolidação ideológica do regime, numa projeção da imagem de Portugal no estrangeiro, associando o turismo ao bem-estar económico da Nação, e promovendo, ao mesmo tempo, um turismo social-popular para o povo português com menor poder de compra. O desenvolvimento turístico cabia a nível local às Comissões de Iniciativa e Turismo. Muitos dos cartazes de promoção às cidades portuguesas, como é o caso Bicentenário da Basílica de Mafra (1730-1930), fomentavam não apenas o destino, mas os tesouros histórico-artísticos nacionais, como o Palácio/Convento de Mafra. Ou seja, a visita ao local era indissociável da promoção do evento, neste caso da celebração dos 200 anos da fundação da Basílica de Mafra.
A planta da Vila de Mafra datada de 1851, que inclui o desenho da Basílica de Mafra, trata-se de um dos mais importantes testemunhos cartográficos da época. Ostenta a designação de "Planta da parte da Vila de Mafra situada no terreno pertencente à Casa Real, levantada por José António de Abreu, vogal secretário da Comissão do Tombo dos Bens da Coroa, em agosto de 1851". Segundo a investigadora Ana Pagará "as razões da sua elaboração e os objetivos concretos carecem de trabalho de investigação. No entanto, pode-se adiantar que esta carta apresenta duas situações: a primeira relacionada com o levantamento do existente e a segunda com uma intenção de intervir neste espaço. Parece ser patente uma preocupação do ponto de vista urbanístico e da arquitetura paisagística, apresentando o desenho uma série de propostas nesse sentido, tal como sugere a legenda: «Os projetos das novas construções, retificações de ruas, e das fontes públicas no Largo do Chafariz e na Ilha da Madeira são lavados de amarelo e de arvoredo estão de verde». Quanto ao «Largo do Real Palácio», é nítida a intenção de plantar linhas paralelas de árvores, as quais acompanhariam também os alçados Norte e Sul do Monumento, e construir edifícios para formar um espaço «fechado» (à exceção da ligação do terreiro com a rede viária) nas extremidades Norte e Sul".